quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A casa onde às vezes regresso é tão distante


A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração


in A casa onde às vezes regresso é tão distante, José Tolentino Mendonça


Sem comentários: